Ontem li um texto tão lindo na página do Luciano Huck no facebook que me emocionei. E como não poderia deixar de ser, resolvi postá-lo para compartilhar e registrar esse texto tão belo.
E o título é 'Antes que elas cresçam' e que segundo o Luciano, foi escrito em 1987.
'ANTES QUE ELAS CRESÇAM'
(Affonso Romano de Sant'Anna)
Há um período em que os pais vão ficando órfãos
dos próprios filhos.
É que as crianças crescem. Independentes de nós,
como árvores, tagarelas e pássaros estabanados, elas crescem sem pedir licença.
Crescem como a inflação, independente do governo e da vontade popular. Entre os
estupros dos preços, os disparos dos discursos e o assalto das estações, elas
crescem com uma estridência alegre e, às vezes, com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira;
crescem, de repente.
Um dia se assentam perto de você no terraço e
dizem uma frase de tal maturidade que você sente que não pode mais trocar as
fraldas daquela criatura.
Onde e como andou crescendo aquela danadinha que
você não percebeu? Cadê aquele cheirinho de leite sobre a pele? Cadê a pazinha
de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços, amiguinhos e o
primeiro uniforme do maternal?
Ela está crescendo num ritual de obediência
orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca,
esperando que ela não apenas cresça, mas apareça. Ali estão muitos pais, ao
volante, esperando que saiam esfuziantes sobre patins, cabelos soltos sobre as
ancas. Essas são as nossas filhas, em pleno cio, lindas potrancas.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas,
lá estão elas, com o uniforme de sua geração: incômodas mochilas da moda nos
ombros ou, então com a suéter amarrada na cintura. Está quente, a gente diz que
vão estragar a suéter, mas não tem jeito, é o emblema da geração.
Pois ali estamos, depois do primeiro e do
segundo casamento, com essa barba de jovem executivo ou intelectual em
ascensão, as mães, às vezes, já com a primeira plástica e o casamento
recomposto. Essas são as filhas que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes
dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas. E elas crescem
meio amestradas, vendo como redigimos nossas teses e nos doutoramos nos nossos
erros.
Há um período em que os pais vão ficando órfãos
dos próprios filhos.
Longe já vai o momento em que o primeiro
mênstruo foi recebido como um impacto de rosas vermelhas. Não mais as
colheremos nas portas das discotecas e festas, quando surgiam entre gírias e
canções. Passou o tempo do balé, da cultura francesa e inglesa. Saíram do banco
de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Só nos resta dizer
“bonne route, bonne route”, como naquela canção francesa narrando a emoção do
pai quando a filha oferece o primeiro jantar no apartamento dela.
Deveríamos ter ido mais vezes à cama delas ao
anoitecer para ouvir sua alma respirando conversas e confidências entre os
lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de
colagens, posteres e agendas coloridas de pilô. Não, não as levamos
suficientemente ao maldito “drive-in”, ao Tablado para ver “Pluft”, não lhes
demos suficientes hambúrgueres e cocas, não lhes compramos todos os sorvetes e
roupas merecidas.
Elas cresceram sem que esgotássemos nelas todo o
nosso afeto.
No princípio subiam a serra ou iam à casa de
praia entre embrulhos, comidas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e
amiguinhas. Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os
pedidos de sorvetes e sanduíches infantis. Depois chegou a idade em que subir
para a casa de campo com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois
era impossível deixar a turma aqui na praia e os primeiros namorados. Esse
exílio dos pais, esse divórcio dos filhos, vai durar sete anos bíblicos. Agora
é hora de os pais na montanha terem a solidão que queriam, mas, de repente,
exalarem contagiosa saudade daquelas pestes.
O jeito é esperar. Qualquer hora podem nos dar
netos. O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios
filhos e que não pode morrer conosco. Por isso, os avós são tão desmesurados e
distribuem tão incontrolável afeição. Os netos são a última oportunidade de
reeditar o nosso afeto.
Por isso, é necessário fazer alguma coisa a
mais, antes que elas cresçam.
Lindo mesmo Monalisa!
ResponderExcluirDe fazer repensar em muitas coisas...
Meu pititico adorava um colo sabe? E eu às vezes ficava nervosa, porque tinha tanta coisa pra fazer e ele não dava uma trégua. Mas aí fui percebendo ele crescendo tão rápido e parei com isso. resolvi dar colo mesmo! Afinal já já ele não vai querer mais, snif.
Tá tão pequeno ainda e já prefere o chão.
Beijo!
E eu já sinto tantas saudades, Andreia. Curti pouco minha filha quando bebê, pois ela vivia com cólicas... e mal dormíamos. Não tinha como brincar ou curti-la. agora é que está dando mais para aproveitar... e faço o máximo que posso.
ExcluirBeijos no seu Pititico.
LINDO, LINDO!!
ResponderExcluirjá a emocionar!!
aproveitemos então néee?
muuuitoooo..pq logo passaaa!
deu até uma saudadinha dela agora...no meu serviço..;rs
bjao
perolasdealanis.blogspot.com
Hahaha... imagino o abração que vc deu nela, assim que chegou em casa, hein?
ExcluirOii tudo bem??
ResponderExcluirAmei seu blog!!
Já estou te seguindo se puder vai lá no meu me seguir tmb??
http://amaedadrii.blogspot.com.br/
Espero sua visitinha!!
Bjinhos e tudo de bom para vc e sua família!!
Obrigada pela visita, Iasmin.
ExcluirVou visitar o seu cantinho, sim. Pode me aguardar!!
Bjão!